Na Disney a fórmula da criatividade foi composta pela união de tempo com consumidores, opiniões inusitadas, experiências e storytelling. E é justamente essa a visão de Duncan Wardle para que as marcas continuem conversando com os millennials e a Geração Z. Nos 13 anos que trabalhou na The Walt Disney Company como vice-presidente de relações públicas da Disneyland Resort, VP global de relações públicas dos parques da Disney e, por último, VP de inovação e criatividade, Duncan se dedicou a entender como melhorar a criatividade entre as equipes e as propriedades da companhia, a aprender a ouvir o que o público-alvo não diz e como isso pode se transformar em insights para a comunicação.
Na visão de Wardle, o marketing como é conhecido hoje vai acabar dentro de dez anos. Para ele, a experiência que as marcas podem promover ao consumidor, histórias criativas e de valor emocional e o “social influence”, definição do próprio Duncan para o impacto maior que o público-alvo tem ao ver publicações de amigos, ao invés de marcas, é o que sobressairá.
“Eu acredito que o CMO deveria ser substituído pelo CSO, Chief Storytelling Officer. Seus pais liam para você quando criança? Então, nós crescemos com histórias, somos todos contadores de histórias e eu acredito que todos podem tocar o público contando uma grande história e ser relevante a partir disso”, argumenta.
Em entrevista para a Meio & Mensagem, Duncan Wardle respondeu algumas perguntas pertinentes sobre o cenário atual e também o futuro, como:
• Criatividade tem uma definição individual para cada um. Qual é a sua?
Wardle: Eu acredito que criatividade é a habilidade de ter uma grande ideia. E inovação é a habilidade de fazer essa ideia acontecer. E também acredito que todos somos criativos, não há criativos e não-criativos. Mas eu também acredito que na educação tradicional, somos restringidos a trabalhar essa criatividade e nos dizem que não somos criativos e compramos isso.
• Que prática as empresas podem adotar para fazer a criatividade fluir?
Wardle: Uma das empresas mais inovadoras do mundo é o Google. O que ele faz que ninguém mais faz? Eles têm a política dos 20%. Cerca de 20% da carga horária dos engenheiros é reservada para reflexão ou o pensamento. Outras práticas recomendadas são dar ferramentas para todos os funcionários serem criativos ao invés de contratar consultores de inovação sob demanda. Outra barreira para a criatividade é nossa expertise, que nos limita a correr riscos. Em toda reunião que eu faço, eu trago alguém que não trabalha na minha indústria ou na minha empresa, o que eu chamo de “naive expert” (especialista ingênuo). O papel deles é perguntar a coisa mais audaciosa que todos têm vergonha de perguntar. Isso quebra a tensão da sala e pode gerar grandes ideias.
• Qual é a sua percepção sobre a inovação nas empresas brasileiras?
O Brasil, assim como a Índia, é uma cultura muito empreendedora. Eu acredito que o Brasil e a Índia vão ser duas das maiores economias por volta de 2050, porque são países que tem uma cultura empreendedora e não uma cultura de corporação. Ambev é um grande exemplo. Quase toda a liderança da Ambev em Nova York é do Brasil e eles estão tentando mudar a indústria e ela precisa mudar. Eu cresci bebendo cerveja normal, mas eu sou um cara velho e eles estão apostando em cervejas artesanais.
• Como colocar isso em prática?
A grande palavra do momento é ser “disruptivo”. Todas as marcas acham que ser disruptivo é se expor mais. Mas, na verdade, fazendo isso elas vão irritar mais o consumidor. A cada três fotos no meu Instagram, uma é anúncio. Na Disneyland eu argumentei que, se temos 25 milhões de visitantes ao ano, não precisamos ficar fazendo mais foto. Se você tem um filho pequeno e eu fizer um anúncio dizendo para você levar ele para a Disney que é seguro, você não vai acreditar. Mas se um amigo seu publicar uma foto do filho pequeno dele na Disney, muda tudo!
Alguns outros pontos e pensamentos foram apresentados pelo Duncan, e você pode ler todos eles acessando o link da matéria.