O que acontece nas emissoras poderia ser facilmente comparado a um reality show, desses tenebrosos, que dão o que falar. Nos últimos capítulos, a CNN Brasil foi a personagem que mais trouxe movimento. Desde que anunciou a chegada no país, o canal foi responsável pela contratação de grandes nomes do jornalismo brasileiro, alguns deles são: Evaristo Costa e o casal Mari Palma e Phelipe Siani.
Olhando rapidamente, os nomes parecem cobiçados. Mas aqui fica uma análise um pouco mais profunda e começando pelo time de comentaristas. Ele conta com Caio Coppolla, um dos gurus do bolsonarismo na grande imprensa. Outro ponto que chama atenção é William Waack, um nome experiente no jornalismo, mas manchado por um caso de racismo de repercussão internacional.
São contratações como essa, somado a falta de pessoas negras entre comentaristas e âncoras (ah, são apenas dois), que geraram debate sobre o compromisso da CNN Brasil, e da imprensa como um todo, sobre diversidade e como isso impacta a promessa de imparcialidade dos canais de comunicação e principalmente, da imprensa.
A CNN chegou no país firmando um compromisso com o jornalismo imparcial e com a 'verdade dos fatos'. Segundo ela, a emissora é independente de ideologias ou partidos políticos. No entanto, fica a questão: é possível transmitir, de forma fiel e sincera, a realidade brasileira com redações como essa?
Grandes veículos, principalmente nos últimos anos, passaram a se autodeclararem compromissados com a diversidade. A própria Rede Globo foi elogiada por colocar Maju Coutinho como âncora. O discurso é lindo, mas os números assustam.
O Manchetômetro é uma iniciativa do Laboratório de Mídia e Esfera Pública do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. É um site que acompanha a cobertura das grandes mídias sobre temas como economia e política. É também o responsável por medir o perfil daqueles que têm poder de opinião nos principais veículos de imprensa no Brasil. Segundo seus dados, jornais como O Globo, Folha de São Paulo e Estadão dão voz para profissionais predominantemente masculinos e brancos. A Globo, por exemplo, tem 91% dos seus colunistas brancos, a Folha tem 96% e o Estadão atinge seus 99%.
Essa falta de representatividade na tela das TVs e nas redações exclui pessoas negras de oportunidades de trabalho, mas também influencia diretamente na forma como a população enxerga os fatos. Afinal, se tudo que está na internet é real, então onde estão os negros? E gays, héteros e trans? Além disso, sotaques vêm sendo excluídos e a sociedade ganhando certo padrão de seriedade e do que deve ser levado em conta.
Outra reflexão é que nós, da comunicação como um todo, somos bons em monitorar a diversidade, principalmente no quintal do outros. Mas quantas vezes publicamos reportagens em que só homens são entrevistados? Ou quantas vezes usamos só personagens brancos em peças publicitárias? Ou quantas vezes escolhemos não falar sobre o Dia do Orgulho LGBTQ+?
Se o sistema midiático no Brasil é marcado pouco espaço para pluralidade, as mídias alternativas carregam lutas e transformações na sua essência. Elas se propõem a destacar enquadramentos diferenciados dos que estão nos jornais e tem muito para ensinar sobre diversidade de fontes e de assuntos.
Aqui estão alguns projetos incríveis que ajudam qualquer profissional da comunicação (alô criativos) a se inspirarem e irem na contramão do movimento CNN Brasil:
Entreviste um Negro: a diversidade não precisa estar só nas redações, muito pelo contrário! A diversidade também precisa ir para as fontes e esse é o objetivo do projeto. É um banco de dados público de especialistas negros para ajudar jornalistas ampliarem a sua agenda de contatos.
Nappy: encontrar fotos de pessoas negras com um laptop em uma cafeteria, por exemplo, não é tão fácil assim. Por isso, a agência americana SHADE decidiu criar o Nappy. Site gratuito, com fotos em alta resolução, apenas de pessoas negras.
Agência Mural de Jornalismo nas Periferias: o portal tem o objetivo de retratar o cotidiano da população de periferia, com reportagens que vão além dos assuntos sobre violência. O site conta com crônicas e eventos culturais que acontecem nas principais favelas da capital paulista e conta com jornalistas voluntários, todos negros e moradores de periferias.
The trust project: o projeto desenvolve padrões de transparência que ajudam as pessoas a avaliar a qualidade e a credibilidade do jornalismo. Seu principal objetivo é desenvolver técnicas e ferramentas para identificar e promover um jornalismo confiável e de qualidade na internet. Viu o selo do The Trust Project? Não é ruído, é jornalismo!
Estamos prontos para deixar os jobs mais coloridos e com cara de Brasil e você? Vamos juntos? ;)
Benetton Comunicação
Por: Gabriele Fernandez
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