Bombril, Quaker Oats e o racismo: o que está rolando, pessoal?
Que a comunicação tem um histórico memorável de estereótipos, não é novidade para ninguém.
Mulheres seminuas em propagandas machistas de cerveja, carros e cigarros; famílias perfeitas com pai e mãe no comercial de margarina; crianças felizes, loiras e brancas com novos brinquedos.
Em um país com mais da metade da população negra e com um dos movimentos LGBTQ+ mais fortes do mundo, por que na publicidade brasileira só encontrávamos pessoas brancas/loiras e famílias com casais heterossexuais em suas comunicações?
Nós, comunicadores, por muito tempo aprendemos que o principal dever da comunicação era criar o desejo, mas não com o intuito de oferecer uma experiência palpável e próximo da realidade dos consumidores, mas sim de perpetuar estereótipos do que deveriam ser, não do que realmente eram.
Mas o que mudou?
Hoje, as pessoas não aceitam mais ver algo que não as representa.
O consumidor não é mais passivo à comunicação, achando graça e aceitando o preconceito, machismo, homofobia,
racismo e outras “gracinhas” que não tem a menor graça para ninguém.
Em um momento que a empatia e o empoderamento são tão importantes, o consumidor não quer ver uma propaganda que foge da sua realidade, pelo contrário: ele busca uma marca que tenha a preocupação de se conectar com ele.
Afinal, a comunicação é isso, uma conexão, uma grande e prazerosa troca de experiências.
O racismo na comunicação
Após ter recebido diversas críticas em meio aos protestos americanos pela morte de George Floyd, homem negro que foi morto por policiais em Minneapolis, a Quaker anunciou na última quarta, 17, a mudança na comunicação visual da marca Aunt Jemima, linha de mistura de panqueca, xarope e outros alimentos para o café da manhã.
Criada em 1926 pela Quaker, que hoje faz parte do grupo PepsiCo, a imagem da mulher negra usada nas embalagens da Aunt Jemima remete à época da escravidão, com um grande estereótipo racista que se popularizou em vários países, mas principalmente nos Estados Unidos, após a Guerra Civil.
Em um momento delicado como o que estamos vivendo, com protestos e personalidades no mundo todo se posicionando contra o racismo, podemos acreditar no antes tarde do que nunca, não é mesmo?
Assumindo o erro ao reconhecer que as origens da mulher presente nas imagens da marca, há mais de 100 anos, são baseadas em um estereótipo racial, a Quaker disse que remover essa ideia da imagem e do nome fazem parte de um novo momento, que conta com o propósito de progredir em direção à igualdade racial.
Kristin Kroepfl, vice-presidente e diretora de marketing da Quaker Foods North America foi uma das primeiras a se pronunciar a respeito da mudança:
"Reconhecemos que as origens de Aunt Jemima se baseiam em um estereótipo racial. Continuaremos a conversa reunindo diversas perspectivas de nossa organização e da comunidade negra para evoluir ainda mais a marca e torná-la uma que todos possam se orgulhar de ter em sua despensa.".
E enquanto a Quaker mostrou estar aprendendo com seus erros, essa semana a Bombril mostrou estar indo na contramão do resto do mundo, ao dar visibilidade a um produto dos anos 50 que já conta com um histórico nem um pouco positivo.
O lançamento aconteceu nas redes sociais da marca e os usuários não economizaram nas críticas.
Fonte: divulgação
Lançado em 1952 pela também empresa de esponjas de aço, S.A. Barros Loureiro, a esponja de aço inox Krespinha contava com o slogan “Perfeita para a limpeza pesada”, além do logo que remetia aos cabelos de uma garota negra.
E não para por aí, pois usuários das redes sociais apontaram também que o uso do K no início do nome da marca remetia ao Ku Klux Klan, organização terrorista que surgiu nos Estados Unidos em 1865, com o objetivo de perseguir a população negra do país.
Fonte: BBC
Pouco após o anúncio e a quantidade de críticas, a empresa se posicionou, se retratando. Confira na íntegra:
Blackout Tuesday e #BlackLivesMatter
O movimento que trouxe a mudança à Quaker aconteceu no dia 2 de junho, iniciada originalmente por personalidades da indústria da música para protestar contra o racismo e a brutalidade policial. A ação é uma organização em resposta ao assassinato de George Floyd e Ahmaud Arbery. Além do movimento nas ruas, foi iniciado também um protesto online, onde os usuários começaram a publicar em suas redes sociais fotos quadradas na cor preta, com a tag #BlackLivesMatter.
Benetton Comunicação
Por: Laís Amorim
Fotos/Créditos: Envato
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